quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Buenos Aires e Mendoza em 9 dias

A preparação para a viagem à Argentina (janeiro de 2010) começou um mês antes do evento. A idéia era realizar uma viagem de dez dias que incluiria Buenos Aires e Mendoza. As datas estipuladas foram de 12-01-2010 a 21-01-2010. Fiz a programação da seguinte forma: Buenos Aires de 12-01 a 14-01 e ônibus noturno para Mendoza, de 15-01 a 18-01. Retorno a Buenos Aires pela mesma via rodoviária e últimos dias da viagem (19-01 a 21-01).

Em Buenos Aires a ideia era conhecer as atrações principais, fugindo de armadilhas para turistas. Contudo, como eu ainda não conhecia a cidade, não poderia fugir de Recoleta, Puerto Madero, Parque de Palermo etc., sem contar as noitadas. Em Mendoza, a idéia era conhecer tantas vinícolas quanto possível, assim como fazer uma visitinha ao Aconcágua.


Daqui do Brasil, eu deveria fazer as reservas para os hotéis, as reservas para as vinícolas em Mendoza, a reserva de um carro alugado em Mendoza e comprar as passagens de ônibus entre as duas cidades.

Encontrei opções de hotéis que se mostraram muito boas para minhas necessidades. Para a primeira parte da viagem em Buenos Aires (2 dias), reservei o Gran Hotel Argentino, no centro, próximo ao Obelisco. Em Mendoza, reservei o Hotel Cordón del Plata . Para a terceira parte da viagem (Buenos Aires, 2 últimos dias), decidi arriscar um pouco e deixar para resolver a parada por lá mesmo. É fato que se gasta mais, no Brasil, em pousadas no interior do que com hotéis em Buenos Aires.

Agendei visitas em duas vinícolas em Mendoza: A Ruca Malén e a Catena Zapata. A primeira por ter ótimas indicações; a segunda pela tradição dos vinhos que produz. Fiz tudo por email e o agendamento prévio é necessário dada a alta procura pelos passeios. Decidi que, caso houvesse mais tempo, tentaria outras vinícolas por lá mesmo. Reservei um carro simples por dois dias em Mendoza na Hertz. A opção foi acertada como se verá mais adiante.

Por fim, procurei as opções de ônibus noturnos entre Buenos Aires e Mendoza. A Andesmar é empresa tradicional e extremamente confiável. Contudo, deparei-me com o site da Sendas e achei um serviço que, além de um pouco mais barato, apresentava um pouco mais de conforto e exclusividade nos ônibus com as opções Salón Real e Salón Suíte (poltronas gigantes, inclinação 180 graus, cortinas etc.). Contudo, a Sendas não faz vendas pela internet. Anotei os endereços e decidi comprar as passagens em Buenos Aires.

Para complementar a programação da viagem, vale a visita nos seguintes sites: oficial de Buenos Aires, e http://www.mendoza.travel/, guia completíssimo com passeios, mapas etc.



Saí de Goiânia no dia 12 de manhã e no começo da tarde já estava em Buenos Aires. É bom utilizar somente táxis ou remis oficiais, presentes em quiosques logo à saída do desembarque. Os taxistas da cidade, de forma geral, são atenciosos, gentis e honestos, mas vale a pena evitar riscos. A viagem entre o aeroporto e a cidade é longa e taxistas não oficiais para este trajeto podem te passar a perna. Uma vez, em Buenos Aires, paguei uma viagem a um taxista com duas notas de 20 pesos. Percebi que ele, rapidamente, trocou uma das notas e pediu que eu a substituísse. Detalhe: a nota estava rasgada. Respondi que a nota não era minha e que não faria a troca. Ele assentiu e simplesmente me deu o troco. É bom sempre ficar de olho, mas no geral é tudo bem tranquilo.

Cheguei ao Gran Hotel Argentino. Percebi que a localização era mesmo ótima como esperado: quase ao lado do Obelisco na 9 de julho, no mesmo quarteirão do Café Tortoni, a poucos metros da Casa Rosada, da Calle Florida e a uma pequena caminhada de Puerto Madero. A entrada do hotel é tímida, pequena, e os elevadores são minúsculos. O apartamento, ao contrário, mostrou-se espaçoso, limpo, farto em armários, mas sem frigobar. O banheiro tinha uma banheira e um ótimo chuveiro. Boa impressão.

Fui providenciar imediatamente as passagens para Mendoza, uma vez que viajaria dali a dois dias. Caminhei até o Hotel Sarmiento onde havia um posto da Sendas. Não havia passagens para a data que queria. Muito afortunadamente, havia um posto de vendas de passagens em geral na frente do hotel. Ali, então, comprei as passagens de ida pela Andesmar e de volta pela Sendas. A estrutura era um pouco mambembe, quase uma volta ao anos 70, mas o serviço de vendas foi bem realizado e não tive qualquer problema. O detalhe é que o ônibus da Sendas, na volta de Mendoza, pararia no hotel Sarmiento antes de chegar na estação de Retiro. Analisei o hotel e percebi que a última indefinição da viagem estava resolvida: fize ali mesmo nossa reserva para os últimos dias em Buenos Aires. Este hotel foi um pouco mais caro, mas também um pouco melhor.

Caminhando de volta ao hotel, sem pressa, deparei-me com o Paseo la Plaza, uma galeria escondida entre a Corrientes e a Sarmiento, cheia de teatros, bares, restaurantes e lojas, enfim, um local bem supimpa. Parei no Star Club, um bar cheio de cervejas, comidas e uma decoração baseada nos Beatles. É um local bastante moderno e bem frequentado, para um público próximo dos 30.


No dia seguinte, parti para a Casa Rosada que, como todos sabemos, não é um passeio assim tão interessante. Caminhei sem pressa pela região e cheguei a Puerto Madero, retornando pela Calle Florida. Depois, Galerias Pacífico e Praça San Martin, um agradabilíssimo e charmoso local próprio para se jogar bola com as crianças, passear com o cachorro e se deparar com a estátua de San Martin, este homem onipresente na Argentina. A noite foi finalizada num dos melhores bares do mundo, na minha humilde opinião: o Cruzat, no mesmo Paseo la Plaza. São mais de 150 tipos de cervejas do mundo inteiro. As comerciais (ambevianas, stellianas, heinekianas, budweiserianas etc.) são tratadas com desdém ali. Quem se interessa por cervejas de boa qualidade tem ali sua Meca. Digamos que era o meu caso. Restringi-me às artesanais obscuras argentinas tais como Gulmen, Heberling, Valhalla, Montecristo. Um must em Buenos Aires.

Já na quinta, fui até o Parque de Palermo, o Jardim Japonês e o Cemitério da Recoleta. Minhas impressões: o parque é bonito sem ser passeio obrigatório, idem o Jardim Japonês e o Cemitério não me impressionou. Almocei na frente do cemitério (veja bem: a área na frente do Cemitério da Recoleta é uma das mais agitadas, frenéticas e turísticas da cidade) e voltei ao hotel para a preparação para a longa jornada rumo aos Andes.

Peguei o ônibus da Andesmar às 20h30. O ônibus tinha dois andares (double decker) e escolhi a classe executiva com direito a poltrona que reclina 165 graus, jantar e café da manhã, filme (passou Os Penetras, ou, em espanhol, Los Rompebodas), travesseiro, manta, tudo bem bacana e confortável. Fica-se no segundo andar e dorme-se a viagem quase toda. A volta de Mendoza, pelo ônibus da Sendas, num ônibus mais antigo, teve um serviço um pouco mais atencioso. A comida da Andesmar era um pouco melhor. Assim, quanto à qualidade do serviço devo dizer que, na verdade, tanto faz. Viagens rodoviárias na Argentina são bastante confortáveis.

A chegada em Mendoza foi menos impactante do que eu imaginava. Vê-se as montanhas ao longe, mas não havia quase neve nenhuma. Verão é verão em Mendoza. Ar muito seco, sol escaldante. As pessoas cumprem a tradição da siesta. Nada funciona entre 13h e 16h, só os restaurantes e olhe lá. As lojas, em compensação, ficam abertas até as 20h, 21h. É uma cidade curiosa, porém limpa e segura. Há um sistema de microcanais, rentes às calçadas, que canalizam água proveniente do degelo dos Andes, o que ajuda a, em tese, refrescar a cidade. Notável.

O Hotel Cordón del Plata era melhor que o primeiro de Buenos Aires. Quartos muito limpos, mobília moderna e um banheiro impecável, com banheira e revestimentos novos. Contudo, claro, sem frigobar. O café da manhã, contudo, sem grandes emoções. Daí, uma caminhada pela Peatonal Sarmiento (outro cara onipresente na Argentina), artéria nervosa da cidade, almoço e siesta. À tarde, o belíssimo Parque San Martin. Trata-se de um parque gigantesco, muito bem cuidado, com incontáveis espécies vegetais e um belíssimo lago com os Andes ao fundo. Passeio obrigatório para um final de tarde ou começo de manhã. Vale andar por ali sem pressa.

Sábado era o dia de buscar o carro alugado. Havia visita agendada na bodega Ruca Malén às 11h. Cheguei ao meio-dia. Colaborou para o atraso o fato de ter mapas muito ruins e de absolutamente desconhecer a cidade e as distâncias. Também não havia gps. Erro. As vinícolas ficam fora da cidade, em zona rural. Portanto, a antecedência é imperativa. Contudo, apesar dos percalços, chegauei à bodega e tive um dos melhores almoços de minha calejada vida. A Ruca Malén é uma vinícola que se dedica a vinhos bem delicados, não tão voltados ao comércio, e é adorada por alguns especialistas. A visita às dependências da bodega foi rápida: a grande atração era o almoço. Comi como um rei, em meio às plantações de uvas, com vista para os Andes e muito requinte. 150 pesos por pessoa custou o banquete, com direito à degustação de cinco belíssimos vinhos, dentre os quais destaco o Kinien Malbec 2007, absolutamente sensacional, e o Yauquén Cabernet 2007, custo-benefício imensurável.

Finalizado o rega-bofe, ali pelas 15h, era hora de procurar alguma das 1.200 adegas da região para nova visita. Veio a Norton, próxima, e havia possibilidade de visita. Como era sábado à tarde e não havia outras cartas na manga, ali fiquei. A Norton é uma das maiores vinícolas da Argentina, muito conhecida no Brasil, mas profundamente comercial. A visita foi apenas razoável, com direto à degustação de alguns vinhos. Não acho que vale a pena perder tempo na Norton. Se você está em Mendoza, escolha o que houver de melhor. 

Ao final do dia, Vi o sol se por no Cerro de la Gloria, com uma belíssima vista das montanhas e da cidade. Vá de carro ou táxi. A subida é ingrata. À noite, Cervejaria Antares, local badalado, próprio para a noitada de Mendoza. E a cerveja é boa também. Há filiais em várias cidades da Argentina, inclusive em Buenos Aires (Palermo). Vale pedir a degustação de 8 tipos diferentes de cerveja, em copos pequenos.

No dia seguinte, domingo, viagem até o Aconcágua. De carro, saia de Mendoza pela rodovia principal e siga a estrada que leva ao Chile. Há muitas opções de ônibus também. As estradas são muito boas e há várias indicações. O único perigo é se deixar distrair pelas paisagens indescritíveis ao longo do caminho. Mas não há grandes precipícios como se poderia prever. A estrada entre Mendoza e a fronteira com o Chile é bastante segura e os motoristas não cometem loucuras, respeitam fervorosamente a montanha.

A primeira parada foi Potrerillos, localidade que hospeda um belíssimo lago, de um azul profundo, fruto do represamento do Rio Mendoza. Subi uma estrada vicinal até El Salto e almocei no restaurante Tomillo. Trata-se de um restaurante muito exclusivo e muito especial. Comi uma cazuela de hongos, especialidade da casa, bastante exótica, e conversei longamente com a dona, uma bonairense que se cansou da vida caótica da cidade e decidiu viver ao pé da montanha. Dali, segui uns poucos metros e conheci a fábrica da Cerveja Jerome, já citada. Ali, adquiri alguns espécimes bastante valiosos. Destaque para a Negra, uma Stout muito forte que lembra frutas secas, figo e cola. Segui em direção à montanha e conheci as localidades de Los Penitentes, sede de albergues e pistas de esqui, e Puente del Inca, um amontoado de índios artesãos ao redor de um acidente natural bastante peculiar, no sopé do Aconcágua. Infelizmente, não vi a montanha pois havia névoa e o clima na altitude não costuma ser dos mais previsíveis. O road movie trouxe, como recompensa, a visão de montanhas agressivas que mudam de cor de acordo com a hora do dia; paisagens desérticas de beleza magnífica; rios caudalosos em vales espaçosos; pequenas surpresas a cada curva e a cada parada. Na volta, comi empanadas em Uspallata e enfrentei um pequeno congestionamento de veranistas retornando para Mendoza no domingo à noite. O restante das forças foi utilizado para um jantar. Daí, cama.

Decidi devolver o carro e ir para a bodega Catena Zapata de táxi, o que foi uma escolha ruim porque a vinícola é distante e o taxista não soube chegar sem perguntar a direção a inúmeros transeuntes. Não foi fácil chegar lá. Só vá à Catena se você for muito aficionado por vinhos, uma vez que ali são produzidas algumas das garrafas mais preciosas da Argentina. A construção tem inspiração maia e é belíssima, tanto no exterior como no interior. Contudo, garanto que há várias outras bodegas mais interessantes, mais próximas da cidade e muito mais acolhedoras. E com ótimos vinhos, também. Na volta a Buenos Aires, o serviço da Sendas foi tão bom quanto o da Andesmar e saltei do ônibus na porta do valoroso Hotel Sarmiento, localizado a umas cinco quadras do Obelisco. Foi o melhor hotel da viagem, com serviço altamente profissional e café da manhã superior. Recomendo.

A tarde de terça seria dedicada a um passeio pelas ruas do Bairro da Recoleta. A pé. Escolha acertada, uma vez que o passeio foi agradável e nada cansativo. Em Buenos Aires, apesar da inevitabilidade do táxi pelo fato de ser uma metrópole, a caminhada é a melhor forma de sentir a atmosfera da cidade. De volta ao hotel, banho tomado, noite de música no Clasica y Moderna. Encontrado ao acaso na caminhada diurna, trata-se de uma livraria que funciona como restaurante e casa de cultura, com frequência de senhores de terno a alternativos barbudos. Mostrou-se ótima opção pré-noitada num ambiente cheio de quadros, livros e vinho bom e acessível. Saindo dali, havia tempo para uma visita à balada da Recoleta. As noites de terça em janeiro não são as mais frenéticas de Buenos Aires, mas o Buller, com seu ótimo chopp (stouts, lagers, ales) fabricado no próprio bar, foi surpreendente e acolhedor. Altamente recomendável e cheio de turistas e portenhos jovens e curiosos.

Quarta foi dedicada ao Bairro de Palermo e seu clima moderninho. Trajeto perfeito: descida do metrô na Estação Plaza Itália, subida pela Calle J. L. Borges até a Plazoleta Cortázar, ponto central de Palermo Viejo. Daí, Calle Honduras, a principal do pedaço, Armenia e Plaza Palermo Viejo, cheia de cafés e bastante movimentada. Depois, Plazoleta Cortazar e almoço. Retorno ao hotel e despedida no bar Cruzat, entremeados por espetaculares e surpreendentes cervejas argentinas artesanais, com grande destaque para a Gulmen trigo e a Heberling stout.

Na quinta de manhã, momento do retorno. Não vá para o aeroporto com táxi comum. Chame o táxi especial, garantia de preço combinado e chegada segura.

Um comentário:

  1. Sou goianiense e estou em Buenos Aires desde julho de 2009. Dentre as centenas de "roubadas" da cidade que só conhece quem mora por aqui, vale a pena ressaltar uma que também é um alerta para quem vem a passeio. Cuidado com notas de pesos falsificadas. Recentemente, recebi uma dessas no restaurante "Patio Cervecero", na praça da feira de antiguidades de San Telmo. Só fui descobrir a armadilha quando passei pela situação, mais que constrangedora, de ser informada pelo caixa do supermercado Disco que a nota que eu estava dando para pagar as compras era falsificada.
    Voltei ao Patio Cervecero na mesma noite e ao reclamar com o gerente do restaurante sobre o ocorrido (com detalhes de hora e descrição pormenorizada da situação)recebi uma resposta sarcástica - como que dizendo que eu tinha sido a otária da vez - falando para eu procurar a polícia.

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